terça-feira, 14 de agosto de 2012

Obras de Jorge Amado relacionado ao Cangaço

Extensa é a bibliografia sobre o cangaço, de estudos sociológicos à reportagem documental. Na literatura, destacam-se o romance O Cabeleira (1876) de Franklin Távora, e as obras de José Lins do Rego, Jorge Amado, Raquel de Queiroz e Guimarães Rosa, este último autor de Grande sertão, veredas, considerado o maior romance já escrito sobre os cangaceiros. No cinema, sobressaíram O cangaceiro (1953) de Lima Barreto e Deus e o diabo na terra do sol (1964) de Gláuber Rocha. Mas iremos destacar as obras de Jorge Amado, em homenagem aos seu centenário.


                        Seara Vermelha, de Jorge Amado
Terminado de escrever em junho de 1946, Seara vermelha, de Jorge Amado, é o segundo romance mais divulgado no estrangeiro, compreendendo 26 idiomas: albanês, alemão, árabe, armênio, búlgaro, chinês, eslovaco, espanhol, finlandês, francês, grego, hebráico, húngaro, italiano, japonês, lituano, moldávio, polonês, romeno, russo, sérvio, sueco, tcheco, turco, ucraniano e vietinamita. Além da edição portuguesa que recebeu prefácio do escritor Álvaro Salema.

A obra está enquadrada na ótica explicitamente ideológica do escritor. Faz parte de sua fase de militância política. Depois de tecer sobre a sorte do migrante nordestino que se arrasta rumo à morte querendo chegar em São Paulo, ele mostra como nasce a violência no campo e, inclusive, o fanatismo religioso. Os cangaceiros e os novos messias surgem a partir das injustiças sociais e o desprezo do estado.


Há uma importante mudança de cenário: a narrativa não se passa na Cidade da Bahia e seu Recôncavo, nem à vista dos cacauais do eixo Ilhéus-Itabuna. Jorge Amado abandona a zona do cacau, e localiza o relato no sertão baiano.

É a saga de uma família de retirantes compulsórios, gente expulsa de terras nordestinas, que toma o rumo de São Paulo. A pé. A viagem é um rol de aflições, de fome e de morte. Do grupo inicial de onze retirantes, apenas quatro chegam a uma fazenda de café. Além disso, Jorge Amado descreve as trajetórias de três filhos do casal de retirantes, que tinham partido de casa antes dos pais: o soldado João, o jagunço Zé Trovoada e o cabo Juvêncio, que serve na fronteira com a Colômbia, participa do levante comunista de Natal (novembro de 1935), vai parar no presídio de Ilha Grande e, depois da anistia, retoma os passos de sua vida militante.

Seara Vermelha
reflete a injustiça e o desamparo dos pobres explorados pelos senhores feudais do Nordeste brasileiro. A lúcida perspectiva da personagem feminina, exemplo de esperança, contrapõe-se ao mundo masculino, questionando as decisões que afastam os homens das suas raízes. Os seus três filhos representam a tríplice resposta que pode ser dada à crueldade dos poderosos: José vinga-se pela via do cangaço, João procura as respostas messiânicas e Juvêncio, o grande herói deste romance, reage aderindo às lutas sociais.

Temática


O romance estampa a realidade brasileira com destaque para injustiça e o desamparo sofridos pelo povo na terra que não é sua. "A Seara vermelha de sangue e de fome onde crescem brotos de dor e de revolta".


Enredo


O novo proprietário de antiga fazenda nos sertões do Nordeste baiano despede sumariamente todos os agregados ali existentes, admitidos pelo antecessor, inclusive o velho Jerônimo e sua mulher Jucundina, moradores radicados nas terras havia vinte anos. Sem outra opção, decide emigrar "em busca do país de São Paulo" e, entrouxando todos seus pertences nos costados do jumento Jeremias, partem, a pé, os onze parentes: Jerônimo e a mulher, os dois filhos restantes (Agostinho e Marta), os três netos (Tonho, Noca e Ernesto) órfãos ainda crianças, sua irmã insana Zefa e seu irmão João Pedro com a família (Dina e Gertrudes), numa longa "Viagem de espantos", eles que jamais se haviam afastado do lugar.


Padeceram perigos, doenças, luto, sede e fome até atingirem Juazeiro, para embarcarem de navio em demanda a Pirapora pelo rio São Francisco. Ali chegam em péssimas condições, alquebrados. Aí, ao enfim acomodarem-se numa fazenda de café, restam da família apenas quatro: Jerônimo, Jucundina, João Pedro e o garoto Tonho - os outros morreram ou desencaminharam.


Na segunda parte do romance, "As estradas da esperança)", o eixo narrativo se desloca para os três filhos homens de Jerônimo e Jucundina: José, João e Juvêncio. E se ocupa dos destinos dos três filhos do casal que haviam deixado a casa, na fazenda nordestina, antes da dolorosa retirada.


João, o primogênito, em família apelidado João, deixara o campo para assentar praça na Força Policial do Estado, sendo posteriormente engajado à tropa mandada ao sertão para liquidar o acampamento do beato Estêvão, ao qual acorreu também, mas para defendê-lo, o célebre bandido Lucas Arvoredo, em cujo bando atuava o famigerado Zé Trevoada, que outro não era senão José, o segundo filho do casal, que ainda jovem abandonara o lar paterno e se fizera cangaceiro. Ao se dar o assalto da força pública contra o acampamento dos fanáticos penitentes, em meio á confusão de gritos, como animais em fúria, e o troar da fuzilaria, corpos varados a bala, João foi mortalmente atingido e logo em sua percepção os ruídos se tornaram baixinhos, uma nuvem em seus olhos: a última coisa que viu "perfeitamente vista era a face de seu irmão José disparando o fuzil".

O terceiro filho, Juvêncio, deixou os pais ainda adolescente à busca do mundo distante, tendo-se alistado na Polícia Militar de um Estado vizinho e de pronto incorporado ao batalhão de partida para sufocar a Revolução Constitucionalista em São Paulo, onde, depois de tudo apaziguado, ingressa no Exército, indo servir em Matos Grosso. De Campo Grande, já promovido a cabo, vai para um posto de fronteira com a Colômbia em que, em condições desesperadoras, assume o comando do sitiado posto, semidizimado, sistematiza caçadas para o abastecimento, cava novas trampas, recompõe paliçadas e mantém a resistência aos silvícolas até chegar a expedição de socorro. Transferido para Natal, conhece Lurdes e participa do levante comunista como um dos seus líderes.


Preso após a sedição é condenado a cumprir pena no presídio da Ilha Grande, onde se casa por procuração com Lurdes e cuida de ilustrar-se. Aí recebe a visita da velha mãe viúva, vinda de São Paulo em companhia do jovem Tonho, com quem futuramente, após a anistia, participará ativamente da militância comunista no Brasil.


Texto parcial de
O Estado de São Paulo

Capitães da Areia, de Jorge Amado

Análise da obra

A obra Capitães da Areia foi escrita na primeira fase da carreira de Jorge Amado, e nota-se grandes preocupações sociais. As autoridades e o clero são sempre retratados como opressores (Padre José Pedro é uma exceção mas nem tanto; antes de ser um bom padre foi um operário), cruéis e responsáveis pelos males. Os Capitães da Areia são tachados como heróis no estilo Robin Hood. No geral, as preocupações sociais dominam, mas os problemas existenciais dos garotos os transforma em personagens únicos e corajosos, corajosos Capitães da Areia de Salvador.

A grande admiração de Jorge Amado pelos vagabundos ensejou o romance Capitães da Areia. A narrativa se desenrola no Trapiche (hoje Solar do Unhão e o Museu de Arte Moderna); no Terreiro de Jesus (na época era lugar de destaque comercial de Salvador); onde os meninos circulavam na esperança de conseguirem dinheiro e comida devido ao trânsito de pessoas que trabalhavam lá e passavam por lá; no Corredor da Vitória área nobre de Salvador, local visado pelo pelo grupo porque lá habitavam as pessoas da alta sociedade baiana, como o comendador mencionado no início da narrativa.


Foco Narrativo

O livro é dividido em três partes. Antes delas, no entanto, via uma seqüência de pseudo-reportagens, explica-se que os Capitães da Areia é um grupo de menores abandonados e marginalizados, que aterrorizam Salvador. Os únicos que se relacionam com eles são Padre José Pedro e uma mãe-de-santo. O Reformatório é um antro de crueldades, e a polícia os caçam como os adultos antes do tempo que são.

Personagens

Pedro Bala: Era um jovem loiro de 15 anos, que tinha um corte no rosto. Era o chefe dos Capitães da Areia, ágil, esperto, respeitador e sabia respeitar a todos. Saiu do grupo para comandar e organizar os Índios Maloqueiros em Aracaju, desejando com líder do grupo Barandão. Depois disso ficou muito conhecido por organizar várias greves, como perigoso inimigo da ordem estabelecida.

Professor: Era um garoto magro, inteligente, calmo e o único que sabia ler no grupo. O professor era quem planejava os roubos dos Capitães da Areia. Depois de muito tempo aceitou um convite e foi pintar no Rio de Janeiro.

Gato: Era o mais bonito e mais elegante da turma.Candidato a malandro do bando, tinha em caso com Dalva mulher das noites, que lhe dava dinheiro, por isso, muitas vezes, não dormia no trapiche. Só aparecia ao amanhecer, quando saía com os outros, para as aventuras do dia.Participava dos planos mais arriscados e era muito malandro e esperto. Tempos depois foi embora para Ilheús tentar a sorte.

Volta-Seca: Imitador de pássaros e afilhado de Lampião, era mulato sertanejo de alpargatas.

Sem Pernas: Era um garoto pequeno para sua idade, coxo de uma perna, agressivo, individualista. Era quem penetrava nas casas de família fingindo ser um pobre órgão com o objetivo de descobrir os lugares da casa, onde ficavam os objetos de valor depois fugia e os Capitães da Areia assaltavam a casa. Seu destino foi suicidar-se atirando-se do parapeito do elevador Lacerda, pelo ódio que nutria pela polícia baiana.

João Grande: Negro, mais alto e mais forte do bando. Cabelo crespo e baixo, músculos rígidos. Após a morte de seu pai, João Grande não voltou mais ao morro onde morava, pois estava atraído pela cidade da Bahia. Cidade essa que era negra, religiosa, quase tão misteriosa como o verde mar. Com nove anos entrou no Capitães da Areia. Época em que o Caboclo ainda era o chefe. Cedo, se fez um dos chefes do grupo e nunca deixou de ser convidado para as reuniões que os maiorais faziam para organizar os furtos. Ele não era chamado para as reuniões porque ele era inteligente e sabia planejar os furtos, mas porque ele era temido, devido a sua força muscular. Se fosse para pensar, até lhe doía a cabeça e os olhos ardiam. Os olhos ardiam também quando viam alguém machucando menores. Então seus músculos ficavam duros e ele estava disposto a qualquer briga. Ele era uma pessoa boa e forte, por isso, quando chegavam pequeninos cheios de receio para o grupo, ele era escolhido o protetor deles. O chefe dos Capitães da Areia era amigo de João Grande não por sua força, mas porque Pedro o achava muito bom, até melhor que eles. João Grande aprendeu capoeira com o Querido-de-Deus junto com Pedro Bala e Gato. João Grande tinha um grande pé, fumava e bebia cachaça. Não sabia ler. Era chamado de Grande pelo professor, admirava o professor. O professor achava João Grande um negro macho de verdade.

Pirulito: Era magro e muito alto, um cara seca, meio amarelado, olhos fundos, boca rasgada e pouco risonha. Era o único do grupo que tinha vocação religiosa apesar de pertencer ao Capitães da Areia. Quando parou de roubar, para sobreviver vendia jornais, seu destino foi ajudar o padre José Pedro numa paróquia distante.

Boa Vida: Era mulato troncudo e feio, o mais malandro do grupo. Muito preguiçoso, era o único que não participava das atividades de roubo do grupo. Às vezes, roubava um relógio ou uma jóia qualquer, passando-a logo para o Bala, como forma de apoio ao grupo. Era um boa-vida, gostava de violão e de ficar fazendo nada, contemplando o mar e os barcos. Seu destino foi virar um verdadeiro malandro, que vivia a correr pelos morros compondo sambas.

Dora: Tinha treze para quatorze anos, era a única mulher do grupo e se adaptou bem a ele. Era uma menina muito simples, dócil, bonita, simpática e meiga. Conquistou facilmente o grupo com seus cabelos lisos. Seus pais haviam morrido de alastrine e ela ficou sozinha no mundo com seu irmão pequeno. Tentou arrumar emprego, mais ninguém queria empregar filha de bexiguento. Aí ela encontrou João Grande e professor que a chamaram para morar no Trapiche, e logo ela já era considerada por todos como uma mãe, irmã e para Bala uma noiva. Ela participava dos roubos com os outros meninos. Morreu queimando de febre.

João-de-Adão: Estivador, negro fortíssimo e antigo grevista, era igualmente temido e amado em toda a estiva. Através dele, Pedro Bala soube de seu pai. Ele tinha conhecido o loiro Raimundo, estivador que tinha morrido, baleado na greve, lutando em prol dos estivadores. Segundo ele, a mãe de Pedro falecera quando ele tinha seis meses; era uma mulher e tanto.

Don'aninha: Mãe de santo, sempre os socorria em caso de doença ou necessidade.

Padre José Pedro: Introduzido no grupo pelo Boa-Vida, conhecia o esconderijo dos capitães.

Querido-de-Deus: Pescador, juntamente com João- de- Adão tinham a confiança dos meninos, que, por sua vez, não mediam esforços para recompensar esse apoio.

Enredo

Tendo como cenário as ruas e as areias das praias de Salvador, Capitães da Areia trata da vida de crianças sem família que viviam em um velho armazém abandonado no cais do porto. Os motivos que as uniram eram os mais variados: ficaram órfãs, foram abandonadas, ou fugiram dos abusos e maus tratos recebidos em casa.

Aproximadamente quarenta meninos de todas as cores, entre nove e dezesseis anos, dormiam nas ruínas do velho trapiche. Tinham como líder Pedro Bala, rapaz de quinze anos, loiro, com uma cicatriz no rosto. Generoso e valente, há dez anos vagabundeava pelas ruas de Salvador, conhecendo cada palmo da cidade.

Durante o dia, maltrapilhos, sujos e esfomeados, mostravam-se para a sociedade, perambulando pelas ruas, fumando pontas de cigarro, mendigando comida ou praticando pequenos furtos para poder comer. Esse contato precoce com a dura realidade da vida adulta fazia com que se tornassem agressivos e desbocados.

Além desses pequenos expedientes, os Capitães da Areia praticavam roubos maiores, o que os tornou conhecidos, temidos e procurados pela polícia, que estava em busca do esconderijo e do chefe dos capitães. Esses meninos se pegos, seriam enviados para o Reformatório de Menores, visto pela sociedade como um estabelecimento modelar para a criança em processo de regeneração, com trabalho, comida ótima e direito a lazer. No entanto, esta não era a opinião dos menores infratores. Sabendo que lá estariam sujeitos a todos os tipos de castigo, preferiam as agruras das ruas e da areia à essa falsa instituição.

Um dia, Salvador foi assolada pela epidemia de varíola. Como os pobres não tinham acesso à vacina, muitos morriam, isolados no lazareto. Almiro, o primeiro capitão a ser infectado, ali morreu. Já Boa-Vida teve outra sorte; saiu de lá, andando. Dora e o irmão, Zequinha, perderam os pais durante a epidemia. Ao saber que eram filhos de bexiguentos, o povo fechava-lhes a porta na cara. Não tendo onde ficar, os dois acabaram no trapiche, levados por João Grande e o Professor.

A confusão, causada pela presença de Dora no armazém, foi contornada por Pedro. Os meninos aceitaram-na no grupo e, depois de algum tempo, vestida como um deles, participava de todas as atividades e roubos do bando. Pedro Bala considerava Dora mais que uma irmã; era sua noiva. Ele que não sabia o que era amor, viu-se apaixonado; o que sentia era diferente dos encontros amorosos com as negrinhas ou prostitutas no areal.

Quando roubavam um palacete de um ricaço na ladeira de São Bento, foram presos. Parte do grupo conseguiu fugir da delegacia, graças à intervenção de Bala que acabou sendo levado para o Reformatório. Ali sofreu muito, mas conseguiu fugir. Em liberdade, preparou-se para libertar Dora. Um mês no Reformatório feminino foi o suficiente para acabar com a alegria e saúde da menina que, ardendo em febre, se encontrava na enfermaria.

Após renderem a irmã, Pedro, Professor e Volta-Seca fugiram, levando Dora consigo. Infelizmente, não resistindo, ela morreu na manhã seguinte. Don'aninha embrulhou-a em uma toalha de renda branca e Querido-de-Deus levou-a em seu saveiro, jogando-a em alto mar. Pedro Bala, inconsolável e muito triste, chorou com todos a ausência de Dora. Alguns anos se passaram e o destino de cada um do grupo foi tomando rumo. Graças ao apoio de um poeta, o Professor foi para o Rio, e já estava expondo seus quadros. Pirulito, que já não roubava mais, entrara para uma ordem religiosa. Sem-Pernas morreu, quando fugia da polícia. Volta-Seca estava fazendo o que sempre tinha sonhado; aliou-se ao bando de seu padrinho, Lampião, tornando-se um terrível matador de polícia. Gato, perfeito gigolô e vigarista, estava em Ilhéus, trapaceando coronéis. Boa-Vida, tocador de violão e armador de bagunças, pouco aparecia no trapiche. João Grande embarcou como marinheiro, num navio de carga do Lloyd.

Após o auxílio na greve dos condutores de bonde, o bando Capitães da Areia de Pedro Bala, tornou-se uma "brigada de choque", intervindo em comício, greves e em lutas de classes. Assim como Pirulito, Bala havia encontrado sua vocação. Passando a chefia do bando para Barandão, seguiu para Aracaju, onde iria organizar outra brigada. Anos depois, Pedro Bala, conhecido organizador de greves e perigoso inimigo da ordem estabelecida, é perseguido pela polícia de cinco estados.

Os Capitães da Areia são heróicos, "Robin Hood"s que tiram dos ricos e guardam para si (os pobres). O Comunismo é mostrado como algo bom. No geral, as preocupações sociais dominam, mas os problemas existenciais dos garotos os transforma em personagens únicos e corajosos.



O fim do cangaço e suas consequências

A extinção desse fenômeno social foi conseqüência sobretudo da mudança das condições sociais no país, das perspectivas de uma vida melhor que se abriam para as massas nordestinas com a migração para o Sul, e das maiores facilidades de comunicação, entre outros fatores. Mais de dez anos antes da morte de Corisco já os nordestinos começavam a migrar para as fazendas paulistas de café, em longas viagens a pé; de 1930 em diante, a industrialização no Sul, a abertura de novas frentes agrícolas, como a do norte do Paraná, e a interrupção da imigração estrangeira tornaram mais intensa a demanda de braços do Nordeste, trazendo, como conseqüência, uma intensa migração para o Rio de Janeiro e São Paulo.

O Cangaço acabou?

                                                                                                                                  Pedro Paulo Libório
O cangaço em sua forma de “banditismo” foi um dos últimos movimentos do nosso país de luta armada e de classe pobre que dominou por um longo período de tempo o nordeste brasileiro. Virgulino Ferreira conhecido como Lampião foi um dos maiores líderes da história dos movimentos armados independentes do Brasil.

Os cangaceiros atingiam tanto pessoas pobres como ricas, porém o espírito de liberdade e independência demonstradas pelos integrantes desses grupos ao infligirem às normas da sociedade, iludiam e fascinavam os demais habitantes das regiões do Sertão do Nordestino. Muitos destes cangaceiros utilizavam dessa imagem de instrumento de justiça social para justificar seus crimes.

A extinção desse fenômeno social foi conseqüência, sobretudo da mudança das condições sociais no país, das perspectivas de uma vida melhor que se abria para a massa nordestina com a migração para Sul, e das maiores facilidades de comunicação, entre outros fatores.

Os traficantes das grandes favelas brasileiras roubam e matam criando seus próprios protocolos e leis em seus locais de dominância característica semelhante à dos cangaceiros nordestinos. Foram os cangaceiros que introduziram o seqüestro em larga escala no Brasil. Faziam reféns em troca de dinheiro para financiar novos crimes. Caso não recebessem o resgate, torturavam e matavam as vítimas, a tiro ou punhaladas. A extorsão era outra fonte de renda. Essas características são evidentes nas favelas quando relacionadas às milícias. Os cangaceiros corrompiam oficiais militares e autoridades civis, de quem recebiam armas e munição. Um arsenal bélico sempre mais moderno e com maior poder de fogo que aquele utilizado pelas tropas que os combatiam.

Além desses cangaceiros atuais ainda existem outro grupo de “cangaceiros” na nossa sociedade eles estão no cenário político. A diferença dos cangaceiros de 80 anos atrás para os de hoje está no fato apenas de os primeiros, explicitarem as atividades ilegais.

Assim como os cangaceiros abalavam a sociedade com o banditismo e a matança a sangue frio hoje os nossos representantes atingem e infligem à sociedade a matando e sangrando com a conivência a situação de decadência e pobreza que muitos têm que sofrer para manter os elevados padrões de vida desses disseminadores que estão a todo tempo decidindo mesmo que de forma mínima o futuro de nossas vidas ou a ambiência em que conviveremos.

Contradições do Cangaço

O cangaço foi um movimento social que surgiu no sertão do Nordeste brasileiro devido a insatisfações e aversões aos governantes. Os executantes do cangaço eram denominados cangaceiros.

Também denominado “Banditismo Social”, o cangaço era executado por bandos de pessoas que matavam, roubavam e, segundo alguns autores, doava aos pobres, daí a alcunha de banditismo. Em meio à tentativa de industrialização e modernização do Brasil, na República Velha, os proprietários de terras eram ameaçados pelos grupos, que invadiam suas propriedades para aniquilação em peso e latrocínio.

Eram acusados pelos coronéis de distorcerem a realidade. Em contrapartida, uma atividade bastante comum mandada muitas vezes por eles era o crime de mando: em troca de materiais e dinheiro os cangaceiros perseguiam e matavam o “alvo”. Eram grupos paramilitares, um dos seus principais rivais.

O líder desse movimento era Virgulino Ferreira da Silva, vulgarmente conhecido como Lampião. Seu papel no grupo era de suma importância, pois além de ter sido ele o idealizador e criador da “quadrilha”, era ele também quem ditava as regras. Uma delas era a abnegação total de mulheres no bando, isso até ter conhecido Maria Gomes de Oliveira – Maria Bonita –, com quem se casou e teve filhos.

Rui Fado relata de forma bastante dinâmica o ápice do cangaço em “A História do Cangaço”. Um filme que mostra nitidamente as características do ambiente da época, além do cotidiano do bando, visto também em “Deus e o diabo na Terra do Sol”.

Como já esclareci anteriormente, Lampião comandava o maior grupo social de extermínio do Sertão brasileiro. Alguns autores o consideram o “Hobby Woody” brasileiro, justamente por acreditarem que o objetivo do bando era roubar e doar aos pobres, como fazia o personagem citado. Já outros discordam totalmente desse pensamento. Particularmente concordo com os historiadores que citam a “bondade” de Lampião, O Rei do Cangaço, pelo momento em que viviam, de corrupção e extrema miséria.

O governo ofereceu uma grande recompensa a quem capturasse Lampião, uma emboscada foi armada para pegar e matar todo o bando. Caíram. Apenas dois se safaram e conseguiram fugir, o restante, inclusive Lampião e Maria Bonita, foram mortos e decapitados, chega ao fim então o Cangaço brasileiro. 
                                                                                                                  Eduardo Dantas do Nascimento 

Sobre os armamentos


Os cangaceiros mantinham seus rifles ensebados em ocos de pau, para evitar o "bicho próprio da madeira".

Bergmann MP 18-1, modelo 1918 - calibre 7,63 - Mauser. Submetralhadora utilizada no final do cangaço. Duas peças deste modelo foram utilizadas pela Volante no combate em Angico. Carregadores com capacidade para 50 tiros cada. Conhecida também como "costureira".

Revólver Colt modelo Police Positive - calibre .38 SPL , de diametro de 0.357 polegadas. Niquelado com cabo de madrepérola. Arma utilizada pelos cangaceiros e pelas Volantes. Chamada de "Colt Cavalinho".

Pistola Luger - modelo 1908 - calibre 9 mm - parabelum - cano de 4 polegadas. Uma arma destas foi encontrada com Lampião, após sua morte, em Angico.

Pistola Browning, modelo 1910 - calibre 7,65 mm - cano de 3,5 polegadas. Arma utilizada normalmente pelas mulheres do bando. Mais conhecida como pistola FN.

Fuzil Mauser, modelo 1908 calibre 7x57. Arma mais utilizada pelos cangaceiros após Março de 1926.

Mosquetão Mauser, modelo 1908 - calibre 7 x 57 cano curto

Winchester - modelo 1873 - calibre 44 cano octagonal. Arma usada no período inicial do cangaço (anterior a 1926). Conhecido como "Rifle Papo Amarelo"

Punhal e bainha semelhantes aos usados por cangaceiros; a lâmina mede aproximadamente 67cm e o cabo, 15cm.









Maria Bonita e o papel das mulheres nos bandos de cangaceiros






Maria Bonita

A primeira mulher a participar de um grupo de cangaceiros. Assim foi Maria Gomes de Oliveira, conhecida como Maria Bonita. Nascida em 8 de março de 1911 (não por acaso o Dia Internacional da Mulher!!) numa pequena fazenda em Santa Brígida, Bahia e filha de pais humildes Maria Joaquina Conceição Oliveira e José Gomes de Oliveira, Maria Bonita casou-se muito jovem, aos 15 anos. Seu casamento desde o início foi muito conturbado. José Miguel da Silva, sapateiro e conhecido como Zé Neném vivia às turras com Maria. O casal não teve filhos. Zé era estéril.

A cada briga do casal, Maria Bonita refugiava-se na casa dos pais. E foi, justamente, numa dessas “fugas domésticas” que ela reencontrou Virgulino, o Lampião, em 1929. Ele e seu grupo estavam passando pela fazenda da família. Virgulino era antigo conhecido da família Oliveira. Esse trajeto era feito com freqüência por ele. Era uma espécie de parada obrigatória do cangaceiro.

Os pais de Maria Bonita gostavam muito do “Rei do Cangaço”. Ele era visto com respeito e admiração pelos fazendeiros, incluindo Maria. Sem querer a mãe da moça serviu de cupido entre ela e Lampião. Como? Contando ao rapaz a admiração da filha por ele. Dias depois, Lampião estava passando pela fazenda e viu Maria. Foi amor à primeira vista. Com um tipo físico bem brasileiro: baixinha, rechonchuda, olhos e cabelos castanhos Maria Bonita era considerada uma mulher interessante. A atração foi recíproca. A partir daí, começou uma grande história de companheirismo e (por que não!) amor.

Um ano depois de conhecer Maria, Lampião chamou a “mulher” para integrar o bando. Nesse momento, Maria Bonita entrou para a história. Ela foi a primeira mulher a fazer parte de um grupo do Cangaço. Depois dela, outras mulheres passaram a integrar os bandos.

Maria Bonita conviveu durante oito anos com Lampião. Teve uma filha, Expedita, e três abortos. Como seguidora do bando, Maria foi ferida apenas uma vez. No dia 28 de julho de 1938, durante um ataque ao bando um dos casais mais famosos do País foi brutalmente assassinado. Segundo depoimento dos médicos que fizeram a autópsia do casal, Maria Bonita foi degolada viva.



PAPEL DA MULHER NO BANDO DOS CANGACEIROS


O papel das mulheres foi muito importante. Até 1928 Lampião não aceitava mulheres no bando, mas quando conheceu Maria Bonita mudou sua opinião e permitiu outras mulheres ali.

Há quem diz que Lampião começou a perder terreno por causa das mulheres, pois na hora de fujir elas ficavam para trás limpando o acampamento. Era uma visão machista sobre as mulheres...Na realidade elas não tinham uma função específica. Interessante é que elas nao cozinhavam, era tão poucas no grupo que foram eexcluídas dessde trabalho.

Cada dia um cozinhava. Outra coisa é que as mulheres não costuravam. Haviam grandes costureiros no grupo, um deles bem famoso chamado Luiz Pedro que morreu depois de tentar fujir. Não havia machismo no grupo dos cangaceiros, a não ser quando havia infidelidade .

As mulheres não carregavam nenhum punhal nem fuzil, apenas pistolas automáticas. Elas era muito jovens e várias tiveram filhos durante esse período.

O Lampião

Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido como Lampião, nasceu em 7 de julho de 1897 na pequena fazenda dos seus pais em Vila Bela, atual município de Serra Talhada, no estado de Pernambuco. Era o terceiro filho de uma família de oito irmãos.

Lampião desde criança demonstrou-se excelente vaqueiro. Cuidava do gado bovino, trabalhava com artesanato de couro e conduzia tropas de burros para comercializar na região da caatinga, lugar muito quente, com poucas chuvas e vegetação rala e espinhosa, no alto sertão de Pernambuco (chama-se Sertão as regiões interiores e distantes do litoral, onde reinava a lei dos mais fortes, os ricos proprietários de terras, que detinham o poder econômico, político e policial). Em 1915, acusou um empregado do vizinho José Saturnino de roubar bodes de sua propriedade. Começou, então, uma rivalidade entre as duas famílias. Quatro anos depois, Virgulino e dois irmãos se tornaram bandidos. Matavam o gado do vizinho e assaltavam. Os irmãos Ferreira passaram a ser perseguidos pela polícia e fugiram da fazenda. A mãe de Virgulino morreu durante a fuga e, em seguida, num tiroteio, os policiais mataram seu pai. O jovem Virgulino jurou vingança.

Lampião formou o seu bando a princípio com dois irmãos, primos e amigos, cujos integrantes variavam entre 30 e 100 membros, e passou a atacar fazendas e pequenas cidades em cinco estados do Brasil, quase sempre a pé e às vezes montados a cavalo durante 20 anos, de 1918 a 1938.

Existem duas versões para o seu apelido. Dizem que, ao matar uma pessoa, o cano de seu rifle, em brasa, lembrava a luz de um lampião. Outros garantem que ele iluminou um ambiente com tiros para que um companheiro achasse um cigarro perdido no escuro.

Comparado a Robin Hood, Lampião roubava comerciantes e fazendeiros, sempre distribuindo parte do dinheiro com os mais pobres. No entanto, seus atos de crueldade lhe valeram a alcunha de "Rei do Cangaço". Para matar os inimigos, enfiava longos punhais entre a clavícula e o pescoço. Seu bando seqüestrava crianças, botava fogo nas fazendas, exterminava rebanhos de gado, estuprava coletivamente, torturava, marcava o rosto de mulheres com ferro quente. Antes de fuzilar um de seus próprios homens, obrigou-o a comer um quilo de sal. Assassinou um prisioneiro na frente da mulher, que implorava perdão. Lampião arrancou olhos, cortou orelhas e línguas, sem a menor piedade. Perseguido, viu três de seus irmãos morrerem em combate e foi ferido seis vezes.

Grande estrategista militar, Lampião sempre saía vencedor nas lutas com a polícia, pois atacava sempre de surpresa e fugia para esconderijos no meio da caatinga, onde acampavam por vários dias até o próximo ataque. Apesar de perseguido, Lampião e seu bando foram convocados para combater a Coluna Prestes, marcha de militares rebelados. O governo se juntou ao cangaceiro em 1926, lhe forneceu fardas e fuzis automáticos.

Em 1929, conheceu Maria Déa, a Maria Bonita, a linda mulher de um sapateiro chamado José Neném. Ela tinha 19 anos e se disse apaixonada pelo cangaceiro há muito tempo. Pediu para acompanhá-lo. Lampião concordou. Ela enrolou seu colchão e acenou um adeus para o incrédulo marido. Levou sete tiros e perdeu o olho direito.

O governo baiano ofereceu 50 contos de réis pela captura de Lampião em 1930. Era dinheiro suficiente para comprar seis carros de luxo.

Lampião morreu no dia 28 de julho de 1938, na Fazenda Angico, em Sergipe. Os trinta homens e cinco mulheres estavam começando a se levantar, quando foi vítima de uma emboscada de uma tropa de 48 policiais de Alagoas, comandada pelo tenente João Bezerra. O combate durou somente 10 minutos. Os policiais tinham a vantagem de quatro metralhadoras Hotkiss. Lampião, Maria Bonita e nove cangaceiros foram mortos e tiveram suas cabeças cortadas. Maria foi degolada viva. Os outros conseguiram escapar.

O cangaço terminou em 1940, com a morte de Corisco, o "Diabo Loiro", o último sobrevivente do grupo comandando por Lampião.







Sobre os bandos


O primeiro dos grandes bandos independentes foi o de Antônio Silvino (1875), pernambucano que, desde jovem, na última década do século XIX, se dedicara ao cangaço a serviço da família Aires. A partir de 1906, afastou-se das lutas políticas e dos conflitos entre famílias, passando a lutar pela dominação armada de áreas do sertão.
Espancando, assassinando, cobrando tributos e saqueando. Ferido em 1914, durante combate, foi preso e condenado a trinta anos de prisão em Recife, sendo indultado em 1937.

Virgulino Ferreira, o Lampião, o mais famoso de todos os cangaceiros, assumiu a chefia de seu bando em 1922. Por causa da organização e disciplina que impunha seus cabras, raramente era derrotado, além do fato de aparecer perante a população sertaneja como um instrumento de justiça social, procurando, dessa forma, justificar seus crimes, que atingiam pobres e ricos indistintamente. Morreu em combate em 1938. Outros cangaceiros famosos foram Jesuíno Brilhante (1844-1879), cearense, morto em luta com a polícia; Lucas da Feira, baiano, enforcado em 1849; José Gomes Cabeleira, pernambucano, e Zé do Vale, piauiense, igualmente enforcados nas últimas décadas do século XIX.

Como tudo começou

O cangaço surgiu quando Lampião decidiu se alistar em tropa policial a fim de vingar a morte de seu pai.

Existiam três tipos de cangaço na história do sertão: 
o defensivo: de ação casual na guarda de propriedades rurais em virtude de ameaças de índios, disputa de terras e rixas de famílias;
O  político: expressão do poder dos grandes fazendeiros; 
e o independente: com características de banditismo.  
 
No defensivo, após realizarem sua missão de caçar índios no sertão do Cariri e em outras regiões, a ordem dos fazendeiros, os cangaceiros se dissolviam e voltavam a trabalhar como vaqueiros ou lavradores. As rixas entre famílias e as vinganças pessoais mobilizavam constantemente os bandos armados. Parentes, agregados e moradores ligados ao chefe do clã por parentesco, compadrio ou reciprocidade de serviços compunham os exércitos particulares.
O cangaço político resultou, muitas vezes, nas rivalidades entre as oligarquias locais, e se institucionalizou como instrumento dessas oligarquias, empenhadas na disputa para consolidar seu poder. 
Mas no final do século XIX surgiram bandos independentes que não se subordinavam a nenhum chefe local, tendo sua origem no problema do monopólio da terra. Esse tipo de cangaço já existira no passado, em função das secas, mas não conseguira perdurar, eliminado pelos potentados locais, assim que se restabeleciam as condições normais de vida.

Os três tipos de cangaço muitas vezes coexistiram. O defensivo e o político ocorreram por todo o país e sobrevivem, a bem dizer, até os dias atuais. O independente, porém, tem localização certa no tempo, pois surgindo em fins do século XIX, praticamente desapareceu em 1939, com a morte de Corisco, o Diabo Louro, o mais famoso chefe de bando depois de Lampião. 

Introdução

O cangaço foi um fenômeno ocorrido no sertão brasileiro em meados do século XVIII ao inicio do século XX.
Surgindo na região semi-arida do nordeste brasileiro,no império da caatinga. No sertão , o coronel é quem decide sobre os homens e as coisas. É chefe, juiz e delegado. Suas vontades são sentenças.
No sertão do Nordeste brasileiro, as violentas disputas entre famílias poderosas e a falta de perspectivas de ascensão social numa região de grande miséria levaram ao surgimento de bandos armados, gerando o fenômeno do cangaço.
   
Cangaço é o tipo de luta armada ocorrida no sertão brasileiro, cangaceiro era o homem que se dedicava a essa atividade, trazendo sempre atravessada nos ombros sua espingarda, como um boi debaixo da canga. Já no começo do século XIX, o cangaceiro trazia a tiracolo ou pendurada no cinturão toda sorte de armas suplementares, como longos punhais que batiam na coxa e cartucheiras de pele ou de couro, praticamente os mesmos trajes de Lampião.